Aproveita a sua vida, minha filha!
Ela era uma senhora idosa e a conheci no centro geriátrico no qual morava há 5 anos. Na primeira vez em que conversamos, notei que destoava do lugar: era culta, havia sido professora, falava um português correto e conhecia algumas pessoas influentes da cidade. Por isso mesmo tinha um “quê” de esnobe. Nesse dia, conversamos em italiano, idioma que é minha paixão e que ela, como boa descendente, havia aprendido com os avós. Não havia se casado, não tinha filhos e lamentava-se frequentemente por viver ali. Quando me despedi, ela me olhou profundamente, com um misto de amargura e desaponto, e disse:
– Aproveita a sua vida, minha filha!
Foi somente uma frase, mas renderia alguns dias de conversa.
Fiquei pensando em como deve ser doído e frustrante se chegar a um determinado ponto da vida, de onde não se tem mais retorno e perceber que não se fez o que se queria, não se amou como se devia, não se viveu como se esgotaria. E agora, ela não tinha mais tempo. Tanto que partiu alguns meses depois.
Às vezes, quando a vida tenta me soterrar, fico me lembrando da sua figura, sentada sempre no mesmo lugar, as cores das roupas sempre combinando e um eterno olhar carente a pedir atenção. Nessas horas, lanço fora tudo o que é periférico na minha vida e me concentro naquilo que é realmente importante: as boas trocas afetivas, sejam elas quais forem. Acredito que não haja jeito melhor de aproveitar a vida.