Os nossos medos de cada dia

medo

Tenho um amigo médico,  cirurgião geral. Como tal,  literal e simbolicamente, ele passa o bisturi em tudo o que é desnecessário. Não sofre com o que não tem necessidade e é muito prático e objetivo em seus comentários e atitudes.

Dias atrás, eu lhe contava do meu desconforto em viajar de avião. Até por ser uma mulher alta, me sinto incomodada, apertada e abafada entre aquelas poltroninhas. Sinto frio na barriga na hora da decolagem e acho que matei todas as aulas de física, pois não consigo entender como um trambolho daquele tamanho consegue alçar voo.  Acontece que amo viajar e não deixo meu medo me paralisar. Vou com medo, mas  vou!  Porém, gostaria muito de resolver, de uma  vez por todas, essa situação. Gostaria muito de, embriagada pela adrenalina, fazer paz e amor e gritar “Uhuuuu…Vamos decolar!!!”. Mas não é assim que acontece.  Meu amigo cirurgião ouviu atentamente e disparou: “Por que você não escolhe outro objeto para ter medo? Por exemplo, um canguru.  Assim, você decide que nunca vai à Austrália e pronto. Problema resolvido.”

Desatei a rir.

À uma amiga, psicóloga, cujo filho pequeno sofre com alguns terrores noturnos e vai se alojar na cama dela, ele sugeriu: “Faz o seguinte: deixa ele dormir na sua cama e vão,  você e seu marido, dormir na cama dele. Fala pra ele: você fica aí e eu e seu pai vamos dormir na sua cama,  com o bicho que tem lá”. Não é preciso dizer que caímos na gargalhada.

Em tese, o medo é vital para nossa sobrevivência, não nos deixando arriscar além do necessário. Sabemos que pode ser fatal atravessar a rua com sinal aberto para os carros e passear na praça às 3 da madrugada. Melhor evitar!

Mas fiquei pensando nos medos exagerados e nas crenças limitantes que temos e como eles nos causam sofrimentos e podem impedir nosso desenvolvimento. Não que seja tão fácil,  assim, resolvê – los, mas acho que tendemos a hipervalorizá – los e, assim, eles viram fantasmas imensos a nos assombrar.

Temos medo de falar com desconhecidos, de mudar de emprego, de mudar de relacionamento, de amar, de falar com mais autoridade com nossos filhos, de ficar sem dinheiro, de receber um “não”, de sair na chuva, de dirigir, de engordar, de ficar doentes… Enfim, enquanto temos tantos medos, a vida acontece. E, quando nos damos conta, o melhor já passou, sem que tenhamos vivido, mesmo, tudo aquilo a que fomos destinados. E, como diz o poema, erroneamente creditado a Jorge Luis Borges (Se Eu Pudesse Viver Minha Vida Novamente), talvez, quando abrirmos os olhos, não dê mais tempo.

E não adianta nos precavermos tanto, tomarmos todas as providências para caminhar assépticos por esse mundo. Porque, muitas vezes, mesmo com termômetros, guarda-chuvas e paraquedas, a vida nos puxa o tapete. E nos vemos exatamente naquela situação que queríamos tanto evitar.

Cabe – nos achar uma saída para nossos fantasmas, que pode ser olhar de frente e dialogar com eles. Tentar entender o que eles querem tanto nos dizer; ou, mais amplamente falando, pedir ajuda profissional para enfrentá-los; ou, talvez, quem sabe, amputá-los cirurgicamente. Ou seja, ir com medo, mas ir sempre. Ou, então,  viveremos presos dentro de nosso imaginário hipertrofiado e não condizente com a verdadeira realidade.

Queremos isso para nossa vida?

Ivana Rocha

Olá! Sou Ivana Rocha, psicóloga responsável por esse site. Moro em Belo Horizonte e trabalho para o mundo, já que a internet encurta distâncias e facilita o atendimento de pessoas que, antes do advento da web, não tinham acesso a atendimento psicológico. Nesse espaço você vai encontrar textos escritos por mim e vídeos que posto no Youtube, visando estimular reflexões a respeito do cotidiano de todos nós. Também vai saber um pouco mais a respeito do meu trabalho, que desenvolvo através da orientação psicológica e de cursos via internet e de palestras e oficinas presenciais. Minha missão é essa: divulgar minha mensagem a um número cada vez maior de pessoas, para que elas possam ser replicadoras dentro do seu próprio universo e, com isso, criarmos uma corrente do bem. Navegue à vontade. A casa é sua!

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1 Comentário

  1. Carmen lúcia Carvalho d `Ávila

    Pois é Ivana,
    Eu há um ano atrás tive que procurar ajuda em uma clinica para pessoas com fobia de dirigir.Chama-se clinicar.Tive atendimento com dois psicologos fantasticos, um já trabalhou no detran como examinador e o outro sempre trabalhou como psicologo, mas aprendeu algumas tecnicas de rua com o outro.
    Tive algumas sesoes de terapia cognitivo comportamental…acho q conjugadas com hipnose pq algumas coisas não me lembro bem.
    Fiquei por lá por vinte sessões aproximadamente.
    Resolvi, em termos, o meu problema.
    É incrivel, eu que já dirigia há 25 anos passei a ter pavor de descidas e a amenor descida já ia com o pé no freio.
    Resolvi fazer esse relato pq isso é pouco comum. As pessoas em geral, tem medo de subidas.
    Hj em dia, melhorei muito, mas ainda não cheguei lá.
    Mas to tentando amputar o medo cirurgicamente e sigo em frente dirigindo, até pq tenho uma rotina louca. Consultório pela manhã, TJ a tarde e ainda dou aula de Ingles quarta a noite e segunda na hora do almoço.
    Tenho tbém me dedicado arduamente desde dezembro a musculação e exercicios aerobicos p ver se a endorfina resurge.
    Obrigada por essa oportunidade de desabafo.
    Abração,
    carmen

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